A “Poética” de Aristóteles

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”? Talvez. Mas entre as não sonhadas jamais houve uma que não tenha atraído o olhar e o tato de Aristóteles. Primeiro e maior sistematizador da história do pensamento, seu Corpus enciclopédico definiu a epistemologia que está na base dos currículos de ensino superior ao redor do mundo. E, como se não bastasse a teoria, nos deixou também a chave para a prática do saber. No comando de algumas das cabeças mais competentes da Grécia, formaria em seu Liceu o primeiro centro de pesquisa científica aplicada, antecipando o aparato de produção de dados das academias contemporâneas.

Curiosamente, dentre suas numerosas obras, poucas, ou talvez nenhuma, teria uma repercussão comparável à de sua pequena apostila de teoria literária. Desafiando o lugar comum de que gosto não se discute, a Poética apresenta uma análise criteriosa não só dos elementos que compõem a poesia, mas das qualidades que brilham na boa poesia. Para o historiador da literatura grega Albin Lesky, “uma história da Poética e dos seus influxos deveria representar uma parte importante da vida cultural do Ocidente e ser, ao mesmo tempo, a história de erros grandiosos”. Após um período de hibernação milenar, o opúsculo renasceria incompleto ao olhar dos humanistas modernos. Popularizado como um “manual” de composição dramática, se revelou crucial para a formação da ópera italiana e do teatro barroco e neoclássico, suscitando mais de uma polêmica literária literalmente “homérica”. E mesmo hoje, não poucos roteiristas de Hollywood recorrem às lições da Poética para aprimorar a sua arte. Assim – quer saibamos quer não – Aristóteles segue exercendo uma influência decisiva sobre o modo como concebemos nossas histórias, vivemos nossos dramas e experimentamos o horror e a beleza do mundo.

Convidados

André Malta: professor de língua e literatura grega da Universidade de São Paulo.

Vicente Sampaio: tradutor da Poética e pesquisador do departamento de filosofia da Universidade Estadual de Campinas.

Fernando Gazoni: tradutor da Poética e professor de língua e literatura grega na Universidade Federal de São Paulo.

Fontes em O Grande Teatro do Mundo
Referências
Errata
  • 23:20 – Quando se ouve “Édipo, rei de Atenas” entenda-se “rei de Tebas.”

 

Apresentação: Marcelo Consentino

Produção técnica: Echo’s Studio

5 de dezembro de 2014