As Mil e Uma Noites

Tão fabulosa quanto as estórias das Mil e Uma Noites é a história do próprio Livro. Como vários afluentes que correm para um único rio, cada um arrastando de fontes remotas suas próprias criaturas e fragmentos, o Livro justapõe experiências de tempos e espaços diversos do Oriente Médio e da Ásia profunda. A lenda da menina que conta estórias para aplacar a fúria doentia do rei, por exemplo, tem precedentes na literatura indiana desde pelo menos o século IIIo. E enquanto os nomes dos protagonistas principais – Sahrazad e Sahriyar – sugerem uma origem persa, a maior parte das histórias se passa no mundo árabe, oferecendo uma espécie de registro fonográfico dessa cultura ao longo dos séculos, desde a fundação do Islam (e mesmo antes), passando pelo apogeu do califado Abássida em Bagdá até o sultanato Mameluco no Cairo.

Nutrindo-se ora da tradição oral ora da escrita, ora do folclore ora da alta cultura, as estórias mesclam aventuras, crimes, erotismo, humor, mágica, terror chegando a antecipar gêneros tipicamente modernos como os suspenses policiais e mesmo a ficção científica – uma versatilidade espelhada na própria caracterização de Sahrazad, que, segundo o texto, lera “livros de compilações, de sabedoria e de medicina; decorara poesias e consultara as crônicas históricas; conhecia tanto os dizeres de toda a gente como as palavras dos sábios e reis; conhecedora das coisas, inteligente, sábia e cultivada, tinha lido e entendido tudo”.

“As Noites Árabes”, dizia o ensaísta vitoriano Leigh Hunt, “apelam à simpatia da humanidade pelo mundo sobrenatural, pelo desconhecido e o fortuito, pelo possível e pelo remoto. Elas extraem o maravilhoso subjacente aos nossos lugares comuns”.

Convidados

Fabiana Rubira: mestre em linguagem e educação pela Universidade de São Paulo e professora da UNIESP.

Mamede Jarouche: livre-docente em Literatura Árabe pela Universidade de São Paulo, editor e tradutor do “Livro das Mil e Uma Noites”.

Thais de Godoy: mestre em Língua, Literatura e Cultura Árabe com a dissertação “O Livro das Mil e Uma Noites em Jorge Luis Borges”.

Fontes em O Grande Teatro do Mundo
 Referências
  • The Arabian Nights: A Companion editado por Robert Irwin.
  • “The Arabian Nights” entrevista para o programa In Our Time, transmissão radiofônica da Radio BBC.  
  • Story-Telling Techniques in the Arabian Nights de David Pinault.
  • Le Mille et Une Nuits en partage editado por Aboubakr Chraïbi.
  • The Arabian Nights de U. Marzolph, H. Wassouf e R. van Leeuwen.
  • Les Sept Portes des Mille et Une Nuits de E. Brasey.
  • The Arabian Nights Reader editado por U. Marzolph.
  • A Thousand and One Nights: a history of the text and its reception” de D. Reynolds no Cambridge History of Arabic Literature 6.
  • Le Mille et Une Nuits et leur trésor de sagesse de Pascal Bancourt.
  • Scheherazade through the Looking-Glass: The Metamorphosis of the Thousand and One Nights de Eva Sallis.
  • Les Mille et Une Nuits, videoconferência de André Miquel no College de France.
  • The Islamic Context of The Thousand and One Nights de Muhsin J. al-Musawi.
  • Easter dreams: How the Arabian Nights Came to the World de Paul McMichael Nurse.

Apresentação: Marcelo Consentino
Produção técnica: Jukebox

8 de maio de 2015