O Infinito

“Há um conceito que corrompe e altera todos os outros. Não falo do Mal, cujo limitado império é a Ética; falo do Infinito”, assim Jorge Luis Borges iniciava sua biografia do Infinito em Otras Inquisiciones. Oscilando entre os dois extremos do caos e da indefinição, por um lado, e da plenitude e da perfeição, por outro, a visão do infinito desperta o terror e o fascínio do coração humano desde as origens. Segundo o matemático David Hilbert, “nenhuma outra questão jamais moveu tão profundamente o espírito do homem; nenhuma ideia estimulou tão frutuosamente seu intelecto; ainda assim, nenhum conceito permanece tão necessitado de esclarecimento”. Por isso mesmo, o próprio Hilbert, referindo-se às especulações de seu colega Georg Cantor sobre o infinito, diria que “ninguém nos expulsará do paraíso que ele criou para nós”. Immanuel Kant, por sua vez, acreditava ter demonstrado por a + b que pela estrutura mesma da razão humana estamos condenados a sempre indagar e a jamais saber se o mundo é finito ou infinito. Já o poeta Giacomo Leopardi era taxativo: o infinito “é um parto da nossa imaginação, ao mesmo tempo da nossa pequeneza e da nossa soberba… um sonho, não uma realidade”, porque “não temos nenhuma prova da sua existência, sequer por analogia”. Para Descartes, contudo, era um fato insofismável que a ideia da perfeição infinita está inserida no mais íntimo do nosso ser, e por isso, deduziria Fichte, “o infinito aproximar-se do ‘sumo bem’ constitui o verdadeiro destino do homem”, “o sinal da nossa vocação à eternidade”. Não obstante, o senso comum continua a afirmar dia e noite que “tudo que é bom dura pouco”, e as ciências parecem comprovar que todas as coisas nesse mundo e nessa vida têm um fim – a começar por essa vida e por esse mundo… ou será que não?

Fontes em O Grande Teatro do Mundo
Convidados

Alexandre Leone, rabino e professor do programa de pós-graduação de estudos judaicos e árabes da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo.

Fábio Bertato, pesquisador do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Universidade Estadual de Campinas e membro da Sociedade Brasileira de História da Matemática e da Sociedade Brasileira de Lógica.

João Cortese, mestre em História e Filosofia da Ciência pela Universidade Paris 7 e pesquisador de filosofia da matemática na Universidade de São Paulo.

Referências
  • Uma Breve História do Infinito (Achilles in the Quantum Universe: The Definitive History of Infinity) de Richard Morris (Zahar).
  • Infinity. New Research Frontiers, editado por M. Heller e W.H. Woodin (Cambridge University Press).
  • “Infinito”, “Infinito categorematico e sincategorematico”, “Infinito matematico”, “Analise infinitesimal” e outros na Enciclopedia Filosofica Bompiani.
  • Breve storia dell’infinito de Paolo Zellini (Adelphi).
  • O Infinito no Pensamento da Antiguidade Clássica (L’infinito nel pensiero dell’antichità clássica) de Rodolfo Mondolfo (Editora Mestre Jou).
  • Everything and More: A Compact History of the Infinity de David Foster Wallace (W.W. Norton)
  • L’infinito: un equivoco millenario. Le antiche civilità del Vicino Oriente e le origini del pensiero greco de Giovanni Semerano (Mondadori).
  • To Infinity and Beyond: a Cultural History of the Infinity (Princenton University). 
  • Infinito, transfinito, finito de J.D. Garcia Bacca (Anthropos).
  • Do mundo fechado ao universo infinito (Du monde clos à l’Univers infini) de Alexandre Koyré (Forense Universitária).
  • Figures de l’infini. Les mathématiques au miroir des cultures de Tony Levy (Seuil).
  • Unendlich: eine Untersuchung zur metaphysischen Wesenheit auf Grund der Mathematik, Philosophie, Theologie de Anton Antweiler (Herder).
  • Totalidade e Infinito (Totalité et infini: essai sur l’extériorité) de Emmanuel Levinas (Edições 70).

 

Produção e apresentação
Marcelo Consentino

Produção técnica
Echo’s Studio

8 de dezembro de 2014