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Na virada do século XV para o XVI, enquanto a Europa expulsava os muçulmanos e descobria um Novo Mundo, estava claro que a cristandade medieval datada dos tempos carolíngios estava se despedaçando, e com ela a esperança em uma única res publica cristã. Johann Geller, um dos últimos grandes pregadores da Idade Média, previu a dissolução em seu derradeiro sermão ante o Imperador Maximiliano: “Uma vez que nem o Papa nem o Imperador, nem os reis nem os bispos reformarão a nossa vida, Deus enviará um homem para este propósito.”
Se o luteranismo, e por extensão a Reforma, nasce em 1517 com Lutero, segundo a tradição, martelando suas 95 Teses contra as indulgências na porta da Igreja de Todos os Santos de Wittenberg, só em 1555 ele será legitimado, com a ratificação, por uma Dieta do Sacro Império Romano Germânico em Augsburgo, do princípio Cuius regio, eius religio – a cada reino, sua religião. Não à toa na mesma cidade veio à luz entre um e outro evento a primeira confissão de fé protestante. Redigida por Melanchthon sob os conselhos de Lutero, foi negociada entre os Príncipes Eleitores alemães e proclamada ao Imperador em 1530, sendo posteriormente ratificada pelos fundadores das congregações anglicana e calvinista. Invocando os salmos, sua orgulhosa epígrafe anuncia: “Eu falarei de teus testemunhos, Senhor, também ante os reis, e não me envergonharei”. Sintética e sistematicamente ela expõe em duas partes as ideias que haviam sido elaboradas nos grandes tratados da Reforma: nos primeiros 21 artigos afirma seu compromisso com o credo ortodoxo e nos últimos 7, em nome desse credo, acusa os abusos papistas corrigidos pelos evangélicos luteranos.
O que ela diz sobre Deus, sua Criação e o pecado do Homem? O que afirma sobre Jesus Cristo, sua salvação, sua Igreja, seus sacramentos e o seu retorno no fim do mundo? Como os católicos reagiram a ela? Em que difere das outras confissões protestantes? E como pode, hoje, esclarecer os cristãos sobre sua fé e uni-los no serviço ao seu único Senhor?
Convidados
Alderi Souza de Matos: professor de Teologia e História da Igreja do Instituto Presbiteriano Mackenzie.
Lauri Wirth: professor de História do Protestantismo no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo.
Silas Luiz de Souza: professor de História do Cristianismo e coordenador do Núcleo Multidisciplinar de Estudos do Protestantismo da Universidade Mackenzie.
Fontes em O Grande Teatro do Mundo
Morte e Ressurreição de Cristo – Karl Barth - 1947 d.C.
Guerra justa & injusta Paz, ou: O Príncipe que a gente pediu a Deus – Francisco de Vitoria - 1532 d.C.
Oração à Dignidade do Homem – Giovanni Pico della Mirandola - 1486 d.C.
Por que não podemos não nos dizer “cristãos” – Benedetto Croce - 1942 d.C.
Rimas de Miguel Anjo – Michelangelo Buonarroti - Séc. XVI d.C.
Lepanto – Gilbert Keith Chesterton - 1911 d.C.
Uma carta sobre a tolerância – Estado e Igreja – John Locke - 1689 d.C.
O Príncipe (não) deve ser (in)fiel – Niccolò Maquiavel - 1532 d.C.
Carta ao Papa Leão – Martin Lutero - 1520 d.C.
Referências
- História do Cristianismo (The History of Christianity) de Paul Johnson.
- A divisão da Cristandade (The Dividing of Christendom) de Christopher Dawson.
- “Augsburg Confession” verbete de Gerhard May em The Encyclopedia of Christianity, editada por E. Fahlbusch e G.W. Bromiley.
- The Augsburg Confession: A Collection of Sources with an Historical Introduction editado por J.M. Reu.
- “Confession d’Augsbourg” no Dictionnaire historique de la Suisse.
- Die Confessio Augustana, Einführung in die Hauptgedanken der lutherischen Reformation de Leif Grane.
- “Augsburger Bekenntnis” verbete de Herbert Immenkötter no Lexikon für Theologie und Kirche editado por W. Kasper.
- Heilung der Erinnerungen – Befreit zur gemeinsamen Zukunft. Mennoniten im Dialog de Fernando Enns.
- Luther et la Réforme protestante de Annick Sibué.
- Le Temps des réformes : La crise de la chrétienté, l’éclatement (1250-1550) de Pierre Chaunu.
- Geschichte der Reformation de Thomas Kaufmann.
- Die Reformation. Vorgeschichte, Verlauf, Wirkungde Luise Schorn-Schütte.
- I protestante. Uma rivoluzione de Girogio Tourn.
- The Story of Christianity: Vol. 2: The Reformation to the Present Day de Justo L. González.
- La Réforme de Richard Stauffer.
- Histoire de la Réforme protestante de Bernard Cottret.
- Storia del Cristianesimo: L’età Moderna editado por G. Filoramo e D. Menozzi.
- The Reformation de Diarmaid MacCulloch
- Das konfessionelle Zeitalter – Katholizismus, Luthertum, Calvinismus (1563–1675) de E. Koch.
- The Cambridge History of Christianity. Vol. 6: Reform and Expasion 1500-1600 editado por R. Po-chia Hsia.
- Einführung in die Geschichte der deutschen Reformation de Rainer Wohlfeil.
- A World History of Christianity de Adrian Hastings.
- Naissance et affirmation de la Réforme de J. Delumeau, T. Wanegffelen e B. Cottret.
- Deutschland im Zeitalter der Reformation de Bernard Moeller.
- A History of Christianity. Vol. 2: 1500 to 1975 de Kenneth Scott Latourette.
- Renaissance and Reformation de William Estep.
- The Reformation: A Very Short Introduction de Peter Marshall.
- Histoire générale du protestantisme de Émile Léonard.
- Die Reformation 1495–1555 de Helga Schnabel-Schüle.
Apresentação: Marcelo Consentino
Produção técnica: Afrânio Cruz / Rádio Eldorado
Ilustração: Apresentação da Confissão de Augsburgo ao Imperador Carlos V, autor anônimo, s.d.
10 de maio de 2018