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Joaquim Nabuco foi, a um tempo, uma síntese de sua época e um sinal de contradição para ela. Dionisíaco mundano e vulcânico na juventude, apolíneo elevado e moderador na maturidade; menino de engenho de estirpe aristocrática, bacharel inconformado com as injustiças sociais, deputado campeão do abolicionismo, acusado de “agitador” e “comunista” pelos latifundiários patriarcais de sua classe; criticou acerbamente a Igreja brasileira pela sua resignação à escravidão, mas tornou-se profundamente ortodoxo e comprometido com o supranacionalismo de Roma; cosmopolita, à vontade nas cortes europeias e nas altas rodas americanas, seu fervor por Pernambuco o teria levado, se necessário, ao separatismo; liberal, democrata, federalista convicto, mas leal à monarquia, com a ascensão da República, infligiu-se, aos quarenta anos, o ostracismo como estadista para imergir-se nos livros e documentos do passado, na história da família e do Império, gerando obras seminais para a nossa formação nacional. Quando os republicanos criaram a primeira Embaixada do Brasil, nos Estados Unidos, foi ao velho Nabuco que recorreram para representar a jovem República.
Nabuco foi, em resumo, um “pensador alongado em homem de ação, com olhos de revolucionário e pés quase sempre de conservador”, como disse sobre seu precursor, José Bonifácio, seu conterrâneo Gilberto Freyre, o qual fez ainda, em meados do século passado, esta constatação amargamente atual: “Numa época, como esta que atravessamos, marcada pela desconfiança ou pela suspeita de que todo político brasileiro seja ou tenha sido um politiqueiro e todo homem público, um mistificador; e de que a política, os parlamentos, os congressos sejam inutilidades dispendiosas, senão palhaçadas ou mascaradas prejudiciais ao povo ingênuo, necessitando apenas de governo paternalescamente forte; Nabuco é uma das maiores negações dessa lenda negra com que se pretende desprestigiar, entre nós, a vida pública, a figura do político, a ação dos parlamentos”. Enfim, teria sido Nabuco um homem de contradições ou o centro virtuoso entre as contradições de seu tempo? E como a sua mensagem pode ajudar a sanar as contradições do nosso tempo?
Convidados
Angela Alonso: professora de sociologia da Universidade de São Paulo e autora de Joaquim Nabuco – Os salões e as ruas.
Izabel Marson: professora de história da Universidade Estadual de Campinas e autora de Política, história e método em Joaquim Nabuco.
Marco Aurélio Nogueira: professor de ciência política da Universidade Estadual Paulista e autor de O encontro de Joaquim Nabuco com a política.
Referências
- O Encontro de Joaquim Nabuco com a Política de Marco Aurélio Nogueira.
- Joaquim Nabuco de Angela Alonso.
- Política, história e método em Joaquim Nabuco de Izabel Andrade Marson.
- Em torno de Joaquim Nabuco de Gilberto Freyre.
- A vida de Joaquim Nabuco de Luiz Viana Filho.
- Joaquim Nabuco e os Abolicionistas Britânicos de L. Bethell e José Murilo de Carvalho.
- A vida de Joaquim Nabuco de Carolina Nabuco.
- Machado de Assis e Joaquim Nabuco de Graça Aranha.
- Joaquim Nabuco e o Brasil na América de Olímpio de Souza Andrade.
- Joaquim Nabuco – O homem de ação de Jorge Buarque Lira.
- Joaquim Nabucode Virgílio Pereira da Silva Costa.
- Joaquim Nabuco – A Política como Moral e Como História de Maria E. Prado.
- Joaquim Nabuco, um Pensador do Império de Ricardo Salles.
- Joaquim Nabuco – Retrato de uma Época de Moisés Gicovate.
- Joaquim Nabuco e o Novo Brasil organizado por Humberto França.
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Apresentação: Marcelo Consentino.
Produção: Compasso Coolab.