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Santo Agostinho é não só um dos raros escritores da Antiguidade consumidos popularmente em nosso tempo, mas segundo algumas estimativas é o autor mais traduzido e comentado em todo o mundo. Nascido no norte da África 300 anos após a crucificação de Cristo, quando a comunidade cristã já deixara de ser uma seita palestina perseguida e se tornara a religião hegemônica do Império romano, Aurélio Agostinho fez carreira como professor de retórica e depois bispo, conquistando uma autoridade até hoje sem par entre os chamados Padres da Igreja latina. Suas Confissões da juventude pagã são tidas por muitos como a matriz das autobiografias ocidentais e suas reflexões teológicas estão entre os principais pilares do pensamento filosófico e político da Cristandade.
Quando o saque de Roma pelos visigodos em 410 desencadeou uma atmosfera pessimista sobre o mundo mediterrâneo, Agostinho sacou sua pena afiada para defender a Igreja dos que a acusavam pela degeneração do Império. Após 13 anos de trabalho, vinha à luz sua obra prima. Muito além de uma apologia contra os pagãos, a Cidade de Deus se abre a uma especulação sobre a História Universal sem precedentes no mundo clássico e sem descendentes no medieval, possivelmente só igualada em fôlego e amplitude pelas epopeias metafísicas modernas de filósofos como Vico, Hegel, Comte ou Marx. Em sua visão, toda existência humana, individual ou social, está, do princípio ao fim, tensionada, quando não dilacerada, entre dois amores – dois amores que fundaram duas Cidades. Nas suas palavras:
O amor de si levado até o desprezo de Deus gera a cidade terrena; o amor de Deus levado até o desprezo de si gera a cidade celeste. Aquela aspira à glória dos homens, esta põe acima de tudo a glória de Deus. . . . Os cidadãos da cidade terrena são dominados por uma estúpida ambição de predomínio que os induz a subjugar os outros; os cidadãos da cidade celeste se oferecem um ao outro em serviço e espírito de caridade e respeitam docilmente os deveres da disciplina social.
Convidados
João Carlos Nogueira: professor de ética e filosofia antiga da Pontifícia Universidade de Campinas e tradutor da Cidade de Deus (no prelo).
Moacyr Novaes: professor de Filosofia Medieval na Universidade de São Paulo e autor de A razão em exercício. Estudos sobre a filosofia de Agostinho (Ed. Paulus).
Pedro Monticelli: professor doutor de filosofia patrística, escolástica e contemporânea da Faculdade de São Bento e da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação.
oferecimento
Fontes em O Grande Teatro do Mundo
Morte e Ressurreição de Cristo – Karl Barth - 1947 d.C.
Guerra justa & injusta Paz, ou: O Príncipe que a gente pediu a Deus – Francisco de Vitoria - 1532 d.C.
O Deus na caverna – G.K. Chesterton - 1925 d.C.
Oração à Dignidade do Homem – Giovanni Pico della Mirandola - 1486 d.C.
Cânticos espirituais, ou: Lira de Port-Royal – Jean Racine - 1694 d.C.
Cristianismo sem lágrimas, ou Do direito de ser infeliz: diálogo entre um bárbaro e um tecnocrata – Aldous Huxley - 1932 d.C.
O Caminho da Cruz – Paul Claudel - 1911 d.C.
O Mistério dos Santos Inocentes – Charles Péguy - 1912 d.C.
Rumo à Mente de Deus – Três diálogos herméticos – Hermes Trismegistus - Séculos II a III d.C.
Justiça – Vários Autores
Rimas de Miguel Anjo – Michelangelo Buonarroti - Séc. XVI d.C.
Roma versus Jerusalém – Uma cidade contra si mesma, ou: Meu nome é Legião! – Quinhentos crucificados ante um muro de lamentações – Titus Flavius Josephus - 78 d.C.
Minha breve história do seu mundo, ou: Quatro universos em um – Georg Wilhelm Friedrich Hegel - 1821 d.C.
Lepanto – Gilbert Keith Chesterton - 1911 d.C.
Jerusalém aprisionada – Um convite à Guerra Santa – Papa Urbano II - 1095 d.C.
No Acervo Café Filosófico – CPFL
http://www.institutocpfl.org.br/2017/04/27/cafefilosoficocplf-de-abril-novos-horizontes-da-responsabilidade/
http://www.institutocpfl.org.br/2017/08/07/nova-serie-do-cafe-filosofico-cpfl-na-tv-cultura/
http://www.institutocpfl.org.br/2014/10/07/cafe-filosofico-cpfl-serie-7-prazeres-capitais-pecados-e-virtudes-hoje-curadoria-leandro-karnal/
http://www.institutocpfl.org.br/2011/12/02/o-retorno-do-sabio-a-ciencia-do-ser-e-as-discrepancias-dos-estoicos-–-jose-arthur-giannotti-3/
Referências
- Santo Agostinho, Uma Biografia (Augustine of Hippo: A Biography) de Peter Brown.
- Agostinho (The Cambridge Companion to Saint Augustine) editado por E. Stump e N. Kretzmann.
- Introduction à l’étude de Saint Augustine e Les Métamorphoses de la Cité de Dieu de E. Gilson.
- Augustine of Hippo: Life and Controversies de Gerald Bonner.
- Augustine de Harry Chadwick.
- “The Status of Politics in St. Augustine’s City of God” de P.J. Burnell em History of Political Thought 13/1, 13-29.
- Augustine de M.T. Clark.
- A History of Philosophy II: Augustine to Scotus de F. Copleston.
- The Political and Social Ideas of St. Augustine de H.A. Deane.
- Augustine the Theologian de E. TeSelle.
- “Agostino”, verbete na Encilopedia Filosofica Bompiani.
- “Saint Augustine” , verbete na Stanford Encyclopedia of Philosophy.
- Augustine de Christopher Kirwan.
- Augustine de James O’Donnell.
- “Augustinus” em Eine theologische Ästhetik. Band II: Fächer der Stille. Teil 1: Klerikale Stille de Hans Urs von Balthasar.
- “St. Augustine of Hippo”, verbete na Catholic Encyclopedia.
- “Augustine” e “Augustine: Political and Social Philosophy” na Internet Encyclopedia of Philosophy.
- “Saint Augustin passe aux aveux” em Les Nouveaux Chemins de la connaissance série radiofônica da Radio France Culture.
- Prefácio a The City of God by St Augustine de Marcus Dodds.
- Popolo e casa di Dio in Sant’Agostino de Joseph Ratzinger.
- “Saint Augustin” radiodocumentário para a série Une vie, une oeuvre da Radio France Culture.
- Saint Augustine de Gary Wills.
- Augustine: A Collection of Critical Essays editado por R.A. Markus.
Apresentação: Marcelo Consentino
Produção: Biancamaria Binazzi
18 de outubro de 2017