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Por volta de 1800 Londres, então a maior metrópole do mundo, superava a marca de 1 milhão de habitantes, igualando pela primeira vez a cidade mais populosa da antiguidade, Roma. Na época a população mundial contava com 900 milhões de pessoas, e pouco mais de 10% habitava nas cidades. Desde então o crescimento se deu continuamente em doses industriais. De 1950 até hoje o número de habitantes das cidades em todo o mundo proliferou de 746 milhões para quase 3,5 bilhões, e em 2009, 200.000 anos após o aparecimento dos primeiros homo sapiens, a população urbana finalmente superou a rural. Hoje, num planeta que aglomera mais de 7,25 bilhões de seres humanos, há quase 30 mega-cidades com mais de 10 milhões de habitantes cada. Só em Shangai, a cidade mais populosa do planeta, vivem cerca 25 milhões de pessoas, e as projeções mostram que em 2050 66% da população mundial será urbana, sendo que nos países desenvolvidos essa taxa será de quase 90%.
Não há duvidas de que nosso mundo está se civilizando aceleradamente, ao menos do ponto de vista literal, dado que a raiz etimológica do termo “civilização”, assim como de “civismo”, “cidadão”, “urbanidade”, “política”, “polidez” e outras expressões que denotam os mais altos graus de sofisticação da vida humana, têm todas sua origem no vocábulo “cidade”. Mas acaso esse crescimento vertiginoso das cidades implica um crescimento equivalente da cidadania? Em nosso tempo 1 bilhão de pessoas, quase um terço da população urbana mundial, vive em favelas e assentamentos do gênero, e a expectativa é de que em 2030 esse número dobre para 2 bilhões. E desde o mito da Torre de Babel até as modernas distopias futuristas, as cidades sempre foram convincentemente retratadas como um cenário apocalíptico de criminalidade, insalubridade, stress, individualismo, luxúria, consumismo, superficialidade e outras formas de degradação física, psíquica e moral.
O que explica a explosão urbana dos últimos dois séculos? Como as cidades absorveram mais da metade da população mundial? Que transformações isso traz para a cultura e a sociedade humana? E acaso o globo estaria se transformando numa única e colossal conurbação?
Convidados
Josianne Cerasoli: professora de história política e urbana da Universidade Estadual de Campinas e coordenadora da pesquisa “O urbano em questão: saberes especializados, cidade e história”.
Leandro Medrano: professor de História da Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e editor da revista Pesquisa em Arquitetura e Construção.
Renato Cymbalista: professor de História da Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e presidente do Instituto Pólis.
Fontes em O Grande Teatro do Mundo
Minhas crianças – Charles Dickens - 1837-61 d.C.
As grandes cidades e a vida do espírito – Georg Simmel - 1903 d.C.
Diálogo final de “Assassino sem recompensa” – Eugène Ionesco - 1958 d.C.
Ecos da Era do Jazz – F. Scott Fitzgerald - 1931 d.C.
Atmosfera de decadência – Johan Huizinga - 1935 d.C.
Cristianismo sem lágrimas, ou Do direito de ser infeliz: diálogo entre um bárbaro e um tecnocrata – Aldous Huxley - 1932 d.C.
Dinheiro – Várias vozes
Trabalho – Vários autores
Três italianos buscam um pouco de razão entre a Floresta Amazônica e a Cidade Eterna – Paolo Sorrentino - 2010 d.C.
Anatomia da Democracia – Alexis de Tocqueville - 1840 d.C.
O despotismo do costume, ou: Para onde vai a massa cinzenta – John Stuart Mill - 1859 d.C.
Iluminuras urbanas – Arthur Rimbaud - 1886 d.C.
Uma carta aberta ao presidente Roosevelt, ou: Para curar os males da Depressão – John Maynard Keynes - 1933 d.C.
Os três primeiros “Coros da Rocha” – T.S. Eliot - 1934 d.C.
A Cidade é para as pessoas – Jane Jacobs - 1953 d.C.
Referências
- A Cidade na História (The City in History) de Lewis Mumford (Editora Itatiaia).
- Antologia di Urbanistica. Dal Settecento a oggi e L’imagine dela Città da Sparta a Las Vegas de Paolo Sica (Laterza).
- Londres e Paris no Século XIX: o espetáculo da pobreza de Maria Stella Martins Bresciani (Brasiliense).
- Cidade: história e desafios organizado por Lúcia Lippe Oliveira.
- O Urbanismo: utopias e realidades – uma antologia (L’Urbanisme, utopies et réalités) de Françoise Choay (Perspectiva).
- O Campo e a Cidade: na história e na literatura (The Country and the City) de Raymond Williams (Companhia das Letras).
- “A Cidade” (“Die Stadt”) de Max Weber, em Economia e Sociedade. Volume II (UnB).
- As grandes cidades e a vida do espírito (Die Großstädte und das Geistesleben) de Georg Simmel.
- História da arte como história da cidade (Storia dell’arte come storia della città) de Giulio Carlo Argan (Martins Fontes).
- Cities of Tomorrow. An Intellectual History of Urban Planning e Cities in Civilization de Peter Hall (Wiley-Blackwell/Pantheon).
- A Cidade no Século XX (La Città nel Ventesimo Secolo) de Bernardo Secchi (Perspectiva).
- Gemeinschaft und Gesellschaft de Ferdinand Tönnies.
- A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra (Die Lage der arbeitenden Klasse in England) de Friedrich Engels (Boitempo Editorial).
- Cenas da Favela. As melhores histórias da periferia brasileira organizado por Nelson Oliveira (Geração Editorial).
- “The City in the Twentieth Century” e “The City – A History”, entrevistas em In Our Time, Rádio BBC 4.
- Somos São Paulo/ We Are São Paulo, filme documentário dirigido por Kika Nicolela e Lucas Bambozzi.
- Urbanized filme documentário dirigido por Gary Hustwit.
- Nineteenth Century Cities: Essays In The New Urban History (Yale).
- Classic Essays On The Culture Of Cities, editor (Brandeis)
- The Uses of Disorder: Personal Identity & City Life de Richard Sennett.
Produção e apresentação
Marcelo Consentino
Produção técnica
Jukebox
24 de abril de 2015