Podcast: Play in new window | Download
Durante a Guerra Civil inglesa, o panfleteiro ultrademocrata Richard Overton se lembraria comovido de uma das incontáveis vezes em que foi preso pelos oficiais da Coroa: enquanto arrancavam “de mim a Grande Carta das Liberdades e Direitos da Inglaterra”, gritava “assassino, assassino, assassino!” Uma geração antes, Sir Henry Spelman, membro da ala conservadora do Parlamento, descreveria a Carta como “a mais majestosa e sacrossanta âncora das liberdades inglesas”.
Em seu seu oitavo centenário a Magna Carta é prestigiada mundialmente não só como a pedra fundamental do direito anglo-saxão, mas também, nas palavras do jurista britânico Lord Denning, “como o maior documento constitucional de todos os tempos – o fundamento da liberdade individual contra a autoridade arbitrária do déspota”.
Todavia, de suas 63 cláusulas, só 3 não caducaram ou foram revogadas, permanecendo vigentes na Constituição do Reino Unido. E nos últimos dois séculos não faltaram historiadores que denunciassem a Grande Carta como um “mito” elaborado ideologicamente sobre uma colcha de retalhos de exigências incôngruas e mal costuradas em nome dos interesses privados da elite feudal do século XIII. O próprio Overton diria em outra ocasião, numa chave bem menos romântica, que a Carta é “uma coisa miserável contendo muitas marcas de opressão intolerável”.
Convidados
Eduardo Tomasevicius Filho: mestre em História Social e professor doutor do departamento de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Maria Cristina Carmignani: professora doutora de História do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Tomás Olcese: professor de Direito das Faculdades Metropolitanas Unidas e membro do grupo de pesquisa “Direito Privado Comparado Contemporâneo” da Universidade de São Paulo.
Fontes em O Grande Teatro do Mundo
Os Três Poderes – Montesquieu - 1748 d.C.
Intolerância aos Intolerantes – quatro vozes (e uma emenda) para sufocar a censura – Spinoza, Voltaire, Bentham, Spencer - 1670-1879 d.C.
Da liberdade dos antigos comparada àquela dos modernos – Benjamin Constant - 1819 d.C.
A Árvore das Liberdades – Na raiz do habeas corpus e do devido processo legal – Edward Coke - 1642 d.C.
O Pacto do Mayflower – Pais Peregrinos da Nova Inglaterra - 1620 d.C.
Referências
- Origem dos Direitos dos Povos de Jayme de Altavila (Ícone editora).
- Magna Carta de James C. Holt (Cambridge University Press).
- Magna Carta – Its Role In The Making Of The English Constitution 1300–1629 de Faith Thompson (University of Minnesota Press).
- Select Charters and Other Illustrations of English Constitutional History organizado por William Stubbs (Oxford, Clarendon).
- A History and Defense of Magna Charta de Samuel Johnson (1769).
- “The Magna Carta” em In Our Time, Radio BBC 4.
- Magna Carta: Manuscripts and Myths de Claire Breay (The British Library).
- Struggle for Mastery: The Penguin History of Britain 1066–1284 de David A. Carpenter (Penguin).
- Magna Carta: Through the Ages de Ralph Turner (Routledge).
- A History of The English People de Paul Johnson (Littlehampton).
- Roots of Liberty: Magna Carta, Ancient Constitution and the Anglo-American Tradition of Rule of Law de Ellis Sandoz (Liberty Fund).
- Magna Carta. A commentary on the Great Charter of King John de William Sharp McKechnie.
- A Short History of England: The Glorious Story of a Rowdy Nation de Simon Jenkins (Public Affairs).
- An Introduction to English History de J.H. Baker (Oxford University Press).
- Historical Foundations Of The Common Law de S.F.C Milson (Oxford University Press).
- Les Grands Systèmes de Droit Contemporains de René David (Dalloz).
- “The Meaning of Magna Carta since 2015” de Ralph V. Turner em History Today Magazine.
Produção e apresentação
Marcelo Consentino
Produção técnica
Echo’s Studio
5 de fevereiro de 2015