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O que é uma pessoa? Resposta: “Um membro da espécie humana que se comporta como se comporta por causa de muitas características ou propriedades internas, entre elas sensações, decisões, fantasias, aptidões, percepções, pensamentos, virtudes, intenções, habilidades, instintos, devaneios, incentivos, atos de vontade, alegria, compaixão, defesas emocionais, crenças, complexos, expectativas, anseios, escolha, impulsos, ideias, responsabilidades, satisfações, memórias, desejos, necessidades, sabedoria, quereres, um instinto de morte, um senso dever, sublimação, impulsos, capacidades, propósitos, vontades, informação, um superego, proposições, experiências, atitudes, conflitos, sentidos, formações reativas, uma vontade de viver, consciência, angústia, depressão, medo, razão, libido, energia, reminiscências, inibições, e doenças mentais”. Além de exprimir o senso comum e de catalogar o vocabulário de mais de dois mil anos de investigações psicológicas desde a filosofia grega à psicanálise, a descrição de Burrhus Skinner é especialmente eloquente por sintetizar tudo aquilo que, segundo seu autor, uma pessoa não é nunca foi e jamais será. Contra essa ilusão, dita “mentalista”, ele oporia sua perspectiva “radical”, chegando a sugerir que ela “provavelmente conclama à mais drástica transformação jamais proposta em nosso modo de pensar sobre o homem: é quase literalmente uma questão de virar a explicação do comportamento de dentro para fora”. O impacto calculado de formulações desse tipo cumpriria sua função de despertar o olhar humano para a singularidade da recém nascida ciência do comportamento, mas também faria do behaviorismo um dos “ismos” mais controvertidos do século XX. Se para os mais deslumbrados o ideal de um progresso cientificamente orientado à prosperidade parecia descer do céu à terra, para seus antagonistas, pessoas como Pavlov teriam convertido o “How like a god!”, de Hamlet, em “How like a dog!” E de Admirável Mundo Novo e 1984 a Laranja Mecânica e Matrix uma corrente ficcional tão excitante quanto inquietante se habituaria a associar o ideário comportamentalista a delírios de controle sobre-humano e processos de desumanização em massa.
Cientificamente indiferentes aos exageros de entusiastas e alarmistas, contudo, os analistas comportamentais continuam a lapidar a teoria e a empiria do comportamento, acumulando sólidos benefícios ao aplicá-las a práticas como a educação, a gestão pública e privada, a reabilitação clínica e a socialização de deficientes e delinquentes. E, hoje, após as experiências totalitárias do século XX, na era da globalização econômica, das redes virtuais e do recrudescimento do fundamentalismo religioso, as questões provocadas pelo comportamentalismo são talvez mais urgentes do que nunca. Afinal, que são todos os sistemas jurídicos, políticos, religiosos; suas leis, costumes, ritos; seus valores, crenças, ideais e toda a multidão de símbolos que chamamos “cultura”, senão artifícios fabricados por seres humanos para estimular ou inibir comportamentos humanos? O que mais fazem pedagogos, psicoterapeutas, sacerdotes senão aplicar técnicas de previsão, interpretação e controle de comportamento a fim de capacitar pessoas a prever, interpretar e controlar comportamentos? E, acima de tudo, podemos ou não podemos selecionar nossos próprios comportamentos?, podemos ou não podemos, em uma uma palavra, determinar nosso destino?
Convidados
Roberta Kovac: mestre em Psicologia Experimental pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, psicoterapeuta, e professora do Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento.
César Rocha: doutorando em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos com pesquisa sobre análise do comportamento e planejamento cultural.
Candido Pessôa: doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo, pesquisador e professor do Núcleo Paradigma e da Escola de Sociologia Política de São Paulo.
Fontes em O Grande Teatro do Mundo
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Referências
- Sobre o Behaviorismo (About Behaviorism) de B.F. Skinner (Cultrix).
- Behaviorism: A Conceptual Reconstruction de G.E. Zuriff (Columbia).
- “Com o que o Behaviorista Radical Trabalha” de M.A. Matos em Sobre Comportamento e Cognição, Vol. 1: Aspectos teóricos, metodológicos e de formação em Análise do comportamento e Terapia Cognitivista (Ed. ARBytes).
- “Comportamentismo”, “Condizionamento”, “Operazionismo” e outros na Enciclopedia Filosofica Bompiani.
- B.F. Skinner: The Man and His Ideas de Richard I. Evans (E.P. Dutton).
- Understanding Behaviorism: Behavior, Culture and Evolution de William M. Baum (Blackwell).
- Radical Behaviorism: The Philosophy and the Science de Mecca Chiesa (Cambridge Center for Behavioral).
- Psychology as the Behaviorist Views It de John B. Watson.
- “Behaviorism” na Stanford Encyclopedia of Philosophy e na Internet Encyclopedia of Philosophy.
- “O Behaviorismo Radical como Filosofia da Mente” de J.A.D. Abib e C.E. Lopes.
- Modern Perspectives on John B. Watson and Classical Behaviorism e Modern Perspectives on B.F. Skinner and Contemporary Behaviorism editados por J.T. Todd e E.K. Morris (Praeger).
- “Radical Behaviorism and the Subjective-Objective Distinction” de J. Moore em The Behavior Analyst.
- Behavior Theory and Philosophy editado por K. Lattal e P.N. Chase (Springer).
- Acceptance and Commitment Therapy ; An Experiential Approach to Behavior Change de S.C. Hayes, K.D. Strosahl e K.G. Wilson (The Gilford Press).
- Il comportamentismo: una storia culturale de P. Meazzini (Pordenone).
- Behavior Therapy: Scientific, Philosophical, and Moral Foundations de E. Erwin (Cambridge).
- The New Behaviorism: Mind, Mechanism and Society de John Staddon (Psychology Press).
- “J.B.Watson, a Psicologia Experimental e o Condutismo 100 anos depois” de Rubén Ardila.
- “Percalços na História da ciência: B. F. Skinner e a Aceitação Inicial da Análise Experimental do Comportamento entre as Décadas de 1930 e 1940” de Robson Cruz .
- “Behaviorismo, Operacionalismo e a Ciência do Comportamento Científico” de Luiz Henrique de Araújo Dutra.
- “O Lugar da Análise do Comportamento no Debate Científico Contemporâneo” de Carolina Laurenti.
- B.F. Skinner Foundation.
- Boletim Behaviorista.
- Boteco Behaviorista.
- Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento .
Produção e apresentação
Marcelo Consentino
Produção técnica
Echo’s Studio
17 de dezembro de 2014