Podcast: Play in new window | Download
“A partir de hoje e daqui por diante um novo épico começou na história mundial, e pode-se dizer que no momento estamos em seu início”. O psicólogo e filósofo O.F. Bollnow falava por muitos ao aplicar essas célebres palavras de Goethe sobre a batalha de Valmy a Ser e Tempo de Martin Heidegger. Com seu vocabulário singular e um estilo que oscila entre o êxtase e a exasperação, o livro mesmerizaria o pavilhão acadêmico no período entre-guerras, ao denunciar toda a metafísica ocidental, de Platão em diante, como um “grande esquecimento”, articulando pela primeira vez os temas de fundo do movimento filosófico que estava destinado a ser o mais impactante de todos no imaginário cultural do século XX. Catalisado pelos instintos publicistas de intelectuais franceses como Gabriel Marcel, Merleau-Ponty e sobretudo Jean-Paul Sartre, em pouquíssimo tempo o existencialismo extrapolaria o universo filosófico, tanto no campo teórico, quanto no prático e no estético, provocando reverberações decisivas para a psicoterapia, a teologia, as ciências sociais e as artes e letras em geral; e, hoje, não há pessoa no mundo que não tenha, ao menos uma vez na vida, enfrentado “angústias existenciais”.
Como definir um fenômeno tão difuso e dinâmico? De fato, pode-se mesmo dar um passo atrás e questionar: teria realmente existido algo como uma “escola existencialista”? O próprio Heidegger recusava explicitamente a denominação, bem como Albert Camus, Karl Jaspers e tantos outros tradicionalmente indexados como existencialistas. Para o crítico literário Otto Maria Carpeaux, o existencialismo foi, a um só tempo, “uma filosofia, uma literatura, e um clima de opinião”. Seria então possível distinguir, paradoxalmente, a “essência” do existencialismo?
Convidados
- Juliano Garcia Pessanha: escritor, ensaísta, autor da trilogia Sabedoria do Nunca, Ignorância do Sempre e Certeza do Agora e de Instabilidade Perpétua, e doutorando em filosofia pela Universidade de São Paulo com tese sobre Peter Sloterdijk e Martin Heidegger.
- Vicente de Arruda Sampaio: tradutor, editor e professor de filosofia, e doutorando pela Universidade Estadual de Campinas, com tese sobre Martin Heidegger e o pensamento pré-platônico.
- Valter José Maria Filho: professor e doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo, com a tese O Conceito de Razão na Época de sua Efetuação.
Fontes em O Grande Teatro do Mundo
Oração à Dignidade do Homem – Giovanni Pico della Mirandola - 1486 d.C.
Responsabilidade – Vários autores
Diálogo final de “Assassino sem recompensa” – Eugène Ionesco - 1958 d.C.
Um príncipe encontra um homem sábio e feliz (ou: Quando falha a autoajuda) – Samuel Johnson - 1759 d.C.
Atmosfera de decadência – Johan Huizinga - 1935 d.C.
Fragmentos de encontros e desencontros – Sándor Márai - 1930-42
Cristianismo sem lágrimas, ou Do direito de ser infeliz: diálogo entre um bárbaro e um tecnocrata – Aldous Huxley - 1932 d.C.
Os niilistas estão chegando, ou: Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais – Ivan Turgueniev - 1862 d.C.
O que faz uma vida significativa – William James - 1899 d.C.
Anatomia da Democracia – Alexis de Tocqueville - 1840 d.C.
O despotismo do costume, ou: Para onde vai a massa cinzenta – John Stuart Mill - 1859 d.C.
Desproporção do Homem – Entre os abismos do Infinito e do Nada – Blaise Pascal - 1670 d.C.
O mais antigo programa para um sistema do Idealismo alemão – Hegel, Schelling, Hölderlin - 1796 d.C.
O Mito de Sísifo – Albert Camus - 1942 d.C.
O Louco – Friedrich Nietzsche - 1882 d.C.
Referências
- As Filosofias da Existência (La Philosophie de l’Existence) de Jean Wahl (Europa-América).
- O Existencialismo e Outros Mitos de Nosso Tempo de Alceu de Amoroso Lima (Agir).
- Introdução ao Existencialismo (Introduzione all’Esistenzialismo) de Nicola Abbagnano (Martins Editora).
- “Existentialism” em In our time – BBC 4.
- “Esistenzialismo”, “Heidegger”, “Sartre”, “Camus” e outros na Enciclopedia Filosofica Bompiani.
- Studi sull’esistenzialismo de Luigi Pareyson (Ugo Mursia).
- “Existentialism” e outros na Stanford Encyclopedia of Philosophy.
- Existentialism de D. Cooper (Blackwell).
- Existentialism from Dostoevsky to Sartre de Walter Kaufmann (Meridian Books).
- Introduction aux Existentialismes de Emmanuel Mounier.
Produção e apresentação
Marcelo Consentino
Produção técnica
Ariel Henrique e Julian Ludwig
4 de novembro de 2014