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“Há um conceito que corrompe e altera todos os outros. Não falo do Mal, cujo limitado império é a Ética; falo do Infinito”, assim Jorge Luis Borges iniciava sua biografia do Infinito em Otras Inquisiciones. Oscilando entre os dois extremos do caos e da indefinição, por um lado, e da plenitude e da perfeição, por outro, a visão do infinito desperta o terror e o fascínio do coração humano desde as origens. Segundo o matemático David Hilbert, “nenhuma outra questão jamais moveu tão profundamente o espírito do homem; nenhuma ideia estimulou tão frutuosamente seu intelecto; ainda assim, nenhum conceito permanece tão necessitado de esclarecimento”. Por isso mesmo, o próprio Hilbert, referindo-se às especulações de seu colega Georg Cantor sobre o infinito, diria que “ninguém nos expulsará do paraíso que ele criou para nós”. Immanuel Kant, por sua vez, acreditava ter demonstrado por a + b que pela estrutura mesma da razão humana estamos condenados a sempre indagar e a jamais saber se o mundo é finito ou infinito. Já o poeta Giacomo Leopardi era taxativo: o infinito “é um parto da nossa imaginação, ao mesmo tempo da nossa pequeneza e da nossa soberba… um sonho, não uma realidade”, porque “não temos nenhuma prova da sua existência, sequer por analogia”. Para Descartes, contudo, era um fato insofismável que a ideia da perfeição infinita está inserida no mais íntimo do nosso ser, e por isso, deduziria Fichte, “o infinito aproximar-se do ‘sumo bem’ constitui o verdadeiro destino do homem”, “o sinal da nossa vocação à eternidade”. Não obstante, o senso comum continua a afirmar dia e noite que “tudo que é bom dura pouco”, e as ciências parecem comprovar que todas as coisas nesse mundo e nessa vida têm um fim – a começar por essa vida e por esse mundo… ou será que não?
Fontes em O Grande Teatro do Mundo
O Centro e os Extremos – Várias vozes
Deuses artificiais (no jardim de Satanás) – Charles Baudelaire - 1860 d.C.
Prenúncios da Imortalidade Recolhidos da Mais Tenra Infância – William Wordsworth - 1807 d.C.
O Infinito ao meu redor – Jorge Luis Borges - 1945 d.C.
Preâmbulo às “Revoluções das Esferas Celestes” – Nicolau Copernico - 1543 d.C.
Passado Presente Futuro – Várias vozes
Dinheiro – Várias vozes
Rumo à Mente de Deus – Três diálogos herméticos – Hermes Trismegistus - Séculos II a III d.C.
Desproporção do Homem – Entre os abismos do Infinito e do Nada – Blaise Pascal - 1670 d.C.
A Ciência, a Angústia e o Nada – Martin Heidegger - 1929 d.C.
Convidados
Alexandre Leone, rabino e professor do programa de pós-graduação de estudos judaicos e árabes da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo.
Fábio Bertato, pesquisador do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Universidade Estadual de Campinas e membro da Sociedade Brasileira de História da Matemática e da Sociedade Brasileira de Lógica.
João Cortese, mestre em História e Filosofia da Ciência pela Universidade Paris 7 e pesquisador de filosofia da matemática na Universidade de São Paulo.
Referências
- Uma Breve História do Infinito (Achilles in the Quantum Universe: The Definitive History of Infinity) de Richard Morris (Zahar).
- Infinity. New Research Frontiers, editado por M. Heller e W.H. Woodin (Cambridge University Press).
- “Infinito”, “Infinito categorematico e sincategorematico”, “Infinito matematico”, “Analise infinitesimal” e outros na Enciclopedia Filosofica Bompiani.
- Breve storia dell’infinito de Paolo Zellini (Adelphi).
- O Infinito no Pensamento da Antiguidade Clássica (L’infinito nel pensiero dell’antichità clássica) de Rodolfo Mondolfo (Editora Mestre Jou).
- Everything and More: A Compact History of the Infinity de David Foster Wallace (W.W. Norton)
- L’infinito: un equivoco millenario. Le antiche civilità del Vicino Oriente e le origini del pensiero greco de Giovanni Semerano (Mondadori).
- To Infinity and Beyond: a Cultural History of the Infinity (Princenton University).
- Infinito, transfinito, finito de J.D. Garcia Bacca (Anthropos).
- Do mundo fechado ao universo infinito (Du monde clos à l’Univers infini) de Alexandre Koyré (Forense Universitária).
- Figures de l’infini. Les mathématiques au miroir des cultures de Tony Levy (Seuil).
- Unendlich: eine Untersuchung zur metaphysischen Wesenheit auf Grund der Mathematik, Philosophie, Theologie de Anton Antweiler (Herder).
- Totalidade e Infinito (Totalité et infini: essai sur l’extériorité) de Emmanuel Levinas (Edições 70).
Produção e apresentação
Marcelo Consentino
Produção técnica
Echo’s Studio
8 de dezembro de 2014